Sonhos são interessantes. Não têm um tamanho certo, nem mesmo isso de um ser melhor que o outro. Viajar aos confins do universo, viver para sempre o amor, vencer mais um dia de trabalho, enfim, no campo do pensamento, todos os sonhos são possíveis e gigantes.
O problema é que, por inúmeras razões, muitas delas fora de nosso controle, a realidade se apresenta pequena demais. Com isso, alguns sonhos acabam não se realizando, e tem para si apenas o universo mental, vasto como infinito, mas limitado por sua própria vastidão.
Mas os sonhos são espertos e não contentes com o infinito mental, querem vazar para a limitada realidade. Por isso, muitas vezes, os sonhos vão se transformando, se adaptando, até que estão ao nosso alcance.
Vejam, eu não posso voar, nem mesmo tirar uma nave da garagem e ficar orbitando sobre qualquer corpo celeste (não sou enjoado, qualquer planetoide serviria). Porém, está ao meu alcance experimentar todas as sensações que procuro, por exemplo, em uma viagem planetária.
Felicidade, silêncio, beleza e vastidão.
Eu diria que coquetéis me dão exatamente o que meu sonho de viajar pelo universo daria. Talvez essa viagem não traria nada disso e me surpreenderia com coisas como enjoos e medo do escuro absoluto. Por isso, fico com os coquetéis.
Me dão o que eu sonho que meus sonhos dariam.
A felicidade de estar naquele momento do dia, embalado por jazz e boa companhia.
O silêncio no preparo atento, em cada onça vertida no mixing glass, em cada volta da colher bailarina.
A beleza da mistura de ingredientes, que desce por um fino fio até taça, como se fosse uma foz de um rio, desaguando sobre paredes circulares de uma linda louça.
(nesse momento eu parei para me fazer um coquetel).
A vastidão de rótulos, texturas, aromas, possibilidades. Tudo pode.
Motivado por isso, na pandemia de 2020, que fui incentivado a criar uma simples página no Instagram com fotos das misturas que provava e fazia por aí.
Com o tempo, o gosto, as fotos, e as ideias foram se refinando, provocando outros sonhos e outras sensações.
Incompletude e o sonho de ir mais além, um pouquinho que fosse.
Cansado da mesmice de louças de bar e da dificuldade em se adquirir apenas UM copo e não uma DÚZIA, eu consegui encontrar uma solução e foi quando sonhei em não só caçar louças de bar, mas também vende-las a outros apreciadores, amadores e profissionais.
Sonho realizado. Foram quatro coleções no Instagram com um sucesso tremendo e a procura só aumentou, mesmo com opções de gigantes nesse setor.
Um amador, curioso, cheio de enigmas e mistérios, vendendo louças, tirando fotos e trazendo mais adeptos à coquetelaria.
Os sonhos persistem e ainda não me sinto completo.
Ao que indicam meus intestinos, ainda há mais o que fazer e explorar. Daí esse site, esse texto (e outros que virão) e as reticências que seguem…